12 de dez. de 2009
Educação inclusiva
Engana-me que eu gosto, por Fabio Adiron
Não passa uma semana em que não leia ou ouça alguém falando a respeito de incluir pessoas com a deficiência X ou Y na escola. O assunto passa por discussões em grupos, por teses de mestrado e doutorado e por infindáveis trabalhos de conclusão de curso (os TCC´s que aterrorizam nossos estudantes universitários).
Eu me lembro que nos primeiros anos do Samuel (meu filho que tem síndrome de Down) eu cheguei a flertar com essa idéia. Comecei a colecionar livros sobre matemática para crianças com SD, alfabetização para crianças com SD. Livros que, por sinal, eu nunca cheguei a usar e joguei todos fora em uma das minhas limpezas de biblioteca (não acreditava neles nem para encaminhar para outras pessoas).
Nunca usei porque, à medida que o Samuel avançava na escola, eu descobri que não existe uma coisa como matemática, português ou geografia para pessoas com síndrome de Down. A ortografia é a mesma para pessoas cegas, paraplégicas ou com síndrome de Down. Não existem tabuadas diferentes para surdos ou pessoas com autismo.
Da mesma forma que descobri que não existe um método pedagógico que atenda homogeneamente todas as pessoas que tem uma mesma deficiência. Meu filho aprendeu cedo a ler, o que não significa que todas as crianças com SD terão a mesma facilidade. Por outro lado, ele não tem a mesma habilidade visual, o que torna a geometria e as artes algo onde ele sempre sofre um pouco.
Acontece que os educadores acham que, da mesma forma como a educação é pasteurizada e homogênea para os alunos ditos “normais”, devem existir métodos mágicos que resolvam todos os problemas educacionais daqueles que tem deficiência.
Esses educadores foram formados em escolas e universidades onde foram tratados como massa de pastel, não é para menos que repliquem o modelo. Chega a ser engraçado que, quando questionados sobre suas classes homogêneas, eles afirmem de pés juntos que não existem essas classes. Por outro lado ensinam, dão lição de casa e avaliam como se todos fossem idênticos.
A escola onde meu filho estuda teve outra aluna com SD (que saiu de lá porque a família mudou de cidade) e eles não demoraram mais que um mês para descobrir que o que tinham feito com o Samuel não servia para a outra menina. O estilo de aprendizagem das pessoas não está instalado no cromossomo 21.
Querer incluir pessoas por categorias é perpetuar o preconceito e a discriminação (preconceito e discriminação que. algumas vezes, são promovidos pelos próprios grupos excluídos). É alimentar a indústria de escolas segregadas, de livros especializados, de palestras pseudo-inclusivistas.
Enquanto escolas e educadores não perceberem que a inclusão é um assunto da educação, e não da educação das pessoas com deficiência, continuarão a trilhar o caminho errado. Educação inclusiva só existe se for boa para as pessoas com e sem deficiência, com e sem problemas sócio-econômicos, com e sem distúrbios, transtornos ou fragilidade social.
No momento que fizerem essa descoberta, certamente teremos mais gente discutindo educação de verdade e não essa nuvem de fumaça que temos hoje.
Publicado em sexta-feira, dezembro 11th, 2009 - 06h31min
A cada dia uma nova descoberta...
Não passa uma semana em que não leia ou ouça alguém falando a respeito de incluir pessoas com a deficiência X ou Y na escola. O assunto passa por discussões em grupos, por teses de mestrado e doutorado e por infindáveis trabalhos de conclusão de curso (os TCC´s que aterrorizam nossos estudantes universitários).
Eu me lembro que nos primeiros anos do Samuel (meu filho que tem síndrome de Down) eu cheguei a flertar com essa idéia. Comecei a colecionar livros sobre matemática para crianças com SD, alfabetização para crianças com SD. Livros que, por sinal, eu nunca cheguei a usar e joguei todos fora em uma das minhas limpezas de biblioteca (não acreditava neles nem para encaminhar para outras pessoas).
Nunca usei porque, à medida que o Samuel avançava na escola, eu descobri que não existe uma coisa como matemática, português ou geografia para pessoas com síndrome de Down. A ortografia é a mesma para pessoas cegas, paraplégicas ou com síndrome de Down. Não existem tabuadas diferentes para surdos ou pessoas com autismo.
Da mesma forma que descobri que não existe um método pedagógico que atenda homogeneamente todas as pessoas que tem uma mesma deficiência. Meu filho aprendeu cedo a ler, o que não significa que todas as crianças com SD terão a mesma facilidade. Por outro lado, ele não tem a mesma habilidade visual, o que torna a geometria e as artes algo onde ele sempre sofre um pouco.
Acontece que os educadores acham que, da mesma forma como a educação é pasteurizada e homogênea para os alunos ditos “normais”, devem existir métodos mágicos que resolvam todos os problemas educacionais daqueles que tem deficiência.
Esses educadores foram formados em escolas e universidades onde foram tratados como massa de pastel, não é para menos que repliquem o modelo. Chega a ser engraçado que, quando questionados sobre suas classes homogêneas, eles afirmem de pés juntos que não existem essas classes. Por outro lado ensinam, dão lição de casa e avaliam como se todos fossem idênticos.
A escola onde meu filho estuda teve outra aluna com SD (que saiu de lá porque a família mudou de cidade) e eles não demoraram mais que um mês para descobrir que o que tinham feito com o Samuel não servia para a outra menina. O estilo de aprendizagem das pessoas não está instalado no cromossomo 21.
Querer incluir pessoas por categorias é perpetuar o preconceito e a discriminação (preconceito e discriminação que. algumas vezes, são promovidos pelos próprios grupos excluídos). É alimentar a indústria de escolas segregadas, de livros especializados, de palestras pseudo-inclusivistas.
Enquanto escolas e educadores não perceberem que a inclusão é um assunto da educação, e não da educação das pessoas com deficiência, continuarão a trilhar o caminho errado. Educação inclusiva só existe se for boa para as pessoas com e sem deficiência, com e sem problemas sócio-econômicos, com e sem distúrbios, transtornos ou fragilidade social.
No momento que fizerem essa descoberta, certamente teremos mais gente discutindo educação de verdade e não essa nuvem de fumaça que temos hoje.
Publicado em sexta-feira, dezembro 11th, 2009 - 06h31min
A cada dia uma nova descoberta...
11 de dez. de 2009
Educaçao Inclusiva
Educação Inclusiva: O CNE atende a um pleito fundamental
A inclusão escolar de alunos com deficiência não se faz apenas em escolas e ambientes comuns, e também não se faz apenas em escolas e ambientes especializados. Todavia, a normatização existente no Brasil até pouco tempo, a despeito de ser clara quanto ao direito à inclusão, destinava as verbas públicas para um ou para outro serviço, em se tratando de um mesmo aluno.
Após várias iniciativas capitaneadas pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação para resolver este impasse, vem a lume o Parecer nº 13, do Conselho Nacional de Educação.
Ele menciona que "a partir de 2010, os alunos com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação serão contabilizados duplamente no âmbito do FUNDEB, quando matriculados em classes comuns do ensino regular e no atendimento educacional especializado."
O mesmo Parecer explica que isto ocorre, pois o atendimento educacional especializado não deve ser entendido "como substitutivo à escolarização realizada em classe comum", "mas sim como mecanismo que viabilizará a melhoria da qualidade do processo educacional". Nessa linha, o art. 1º do projeto de Resolução, aprovado por tal Parecer, determina que todos os alunos que necessitam de atendimento educacional especializado devem estar matriculados também em classes e escolas comuns. Ou seja, não é o fim do ensino especializado, é apenas mais um sinal de que ele deve se reestruturar para que, definitivamente, deixe de ser substitutivo do acesso ao ensino comum para ser um apoiador desse acesso.
O CNE nem poderia agir diferente até porque a Resolução e o respectivo Parecer não inovaram em nada. Apenas estão implementando o que está assentado na legislação brasileira (Constituição, leis e decretos) e agora, com muito maior ênfase, na Convenção da Onu sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, já ratificada pelo Brasil com estatura de norma constitucional. Tal Convenção, em seu artigo 24, proclama o reconhecimento do "direito das pessoas com deficiência à educação" e que "para realizar este direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes deverão assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis".
Ora, para ser "inclusivo" o sistema, é preciso que os alunos com deficiência tenham acesso aos ambientes comuns. Mesmo os alunos considerados "graves". Esses, aliás, são os que mais necessitam de um ambiente desafiador e plural. Acrescente-se que as escolas que se organizam para receber até mesmo alunos com sérios déficits, providenciando todos os apoios necessários, são indubitavelmente melhores e mais completas, o que beneficia a todos.
Entretanto, essas diretrizes vêm sendo bastante questionadas. O motivo das críticas é o de sempre: o de que nem todos os alunos com deficiência ou outras necessidades podem ser matriculados em escolas comuns. Isto tem a aparência de razoável, mas é o equivalente a dizer que nem todos esses alunos são seres humanos detentores dos mesmos direitos que as demais pessoas. Nenhuma criança ou adolescente pode ser condenada à segregação. A ficar excluída da sua geração.
Estamos certos de que as críticas ao Parecer nº 13/2009 só podem estar ocorrendo por falta de informação, pois, na verdade, o CNE acaba de dar a sua maior contribuição nessa matéria.
Aqueles que realmente defendem os direitos das pessoas com deficiência entenderão que proteção e zelo passam pelo inquestionável direito à não discriminação, passam pelo direito de ser mais uma criança entre as outras. O Parecer, na esteira das demais normas que lhe dão embasamento, dá a garantia prática para que isto ocorra e ocorra com qualidade.
Eugênia Augusta Gonzaga Fávero é Procuradora da República em São Paulo, Mestre em Direito Constitucional pela PUC/SP, autora do livro "Direitos das pessoas com deficiência", pela WVA Editora, e da cartilha "O acesso de alunos com deficiência às classes e escolas comuns da rede regular de ensino", pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal.
A inclusão escolar de alunos com deficiência não se faz apenas em escolas e ambientes comuns, e também não se faz apenas em escolas e ambientes especializados. Todavia, a normatização existente no Brasil até pouco tempo, a despeito de ser clara quanto ao direito à inclusão, destinava as verbas públicas para um ou para outro serviço, em se tratando de um mesmo aluno.
Após várias iniciativas capitaneadas pela Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação para resolver este impasse, vem a lume o Parecer nº 13, do Conselho Nacional de Educação.
Ele menciona que "a partir de 2010, os alunos com deficiência, com transtornos globais do desenvolvimento e com altas habilidades/superdotação serão contabilizados duplamente no âmbito do FUNDEB, quando matriculados em classes comuns do ensino regular e no atendimento educacional especializado."
O mesmo Parecer explica que isto ocorre, pois o atendimento educacional especializado não deve ser entendido "como substitutivo à escolarização realizada em classe comum", "mas sim como mecanismo que viabilizará a melhoria da qualidade do processo educacional". Nessa linha, o art. 1º do projeto de Resolução, aprovado por tal Parecer, determina que todos os alunos que necessitam de atendimento educacional especializado devem estar matriculados também em classes e escolas comuns. Ou seja, não é o fim do ensino especializado, é apenas mais um sinal de que ele deve se reestruturar para que, definitivamente, deixe de ser substitutivo do acesso ao ensino comum para ser um apoiador desse acesso.
O CNE nem poderia agir diferente até porque a Resolução e o respectivo Parecer não inovaram em nada. Apenas estão implementando o que está assentado na legislação brasileira (Constituição, leis e decretos) e agora, com muito maior ênfase, na Convenção da Onu sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, já ratificada pelo Brasil com estatura de norma constitucional. Tal Convenção, em seu artigo 24, proclama o reconhecimento do "direito das pessoas com deficiência à educação" e que "para realizar este direito sem discriminação e com base na igualdade de oportunidades, os Estados Partes deverão assegurar um sistema educacional inclusivo em todos os níveis".
Ora, para ser "inclusivo" o sistema, é preciso que os alunos com deficiência tenham acesso aos ambientes comuns. Mesmo os alunos considerados "graves". Esses, aliás, são os que mais necessitam de um ambiente desafiador e plural. Acrescente-se que as escolas que se organizam para receber até mesmo alunos com sérios déficits, providenciando todos os apoios necessários, são indubitavelmente melhores e mais completas, o que beneficia a todos.
Entretanto, essas diretrizes vêm sendo bastante questionadas. O motivo das críticas é o de sempre: o de que nem todos os alunos com deficiência ou outras necessidades podem ser matriculados em escolas comuns. Isto tem a aparência de razoável, mas é o equivalente a dizer que nem todos esses alunos são seres humanos detentores dos mesmos direitos que as demais pessoas. Nenhuma criança ou adolescente pode ser condenada à segregação. A ficar excluída da sua geração.
Estamos certos de que as críticas ao Parecer nº 13/2009 só podem estar ocorrendo por falta de informação, pois, na verdade, o CNE acaba de dar a sua maior contribuição nessa matéria.
Aqueles que realmente defendem os direitos das pessoas com deficiência entenderão que proteção e zelo passam pelo inquestionável direito à não discriminação, passam pelo direito de ser mais uma criança entre as outras. O Parecer, na esteira das demais normas que lhe dão embasamento, dá a garantia prática para que isto ocorra e ocorra com qualidade.
Eugênia Augusta Gonzaga Fávero é Procuradora da República em São Paulo, Mestre em Direito Constitucional pela PUC/SP, autora do livro "Direitos das pessoas com deficiência", pela WVA Editora, e da cartilha "O acesso de alunos com deficiência às classes e escolas comuns da rede regular de ensino", pela Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, do Ministério Público Federal.
10 de dez. de 2009
Educação Inclusiva... Um pleonasmo???
Entrevista exclusiva ao Jornal da AME com a Doutora Eugênia Augusta Fávero. Procuradora da República desde 1997 é mãe de dois filhos: Gabriela, de 10 anos, e o Vinícius, de 6, que possui síndrome de Down. Árdua defensora dos direitos e inclusão social das pessoas com necessidades especiais é autora do livro "Direitos das Pessoas com Deficiência: garantia de igualdade na diversidade".
AME - Fale um pouco sobre sua formação acadêmica e por que optou por ser procuradora?
Dra. Eugênia Fávero - Sempre estudei em escolas públicas, no interior de Minas Gerais, até o 2º grau. Não pensava em fazer Direito e muito menos em ser procuradora. Na verdade, eu queria cursar análise de sistemas, de preferência numa faculdade também pública. Mas não passei no almejado vestibular e, aos 17 anos, acabei optando por uma faculdade mais próxima de minha cidade, Guaranésia (MG), ainda que particular, pois havia arrumado o meu primeiro emprego. Escolhi o curso de Direito, confesso que foi porque não vislumbrei, naquela ocasião, melhor opção. Nunca cursei grandes escolas, tudo o que obtive foi sempre com muito esforço, mas nada diferente do que qualquer pessoa pode alcançar. Cursei até o 3º ano, sem o menor entusiasmo, quando comecei a trabalhar no fórum daquela cidade, por ter sido aprovada em um concurso público para escrevente. Passei, então, a ter contato com os processos e, a partir daí, me apaixonei pelo Direito e fiquei decidida a atuar na área jurídica, mas como advogada, pois sempre gostei de desafios. Após um período como escrevente, advoguei nas cidades de Campinas e, depois que me casei, em São Paulo, sempre na área cível. Em 1996, prestei o meu primeiro concurso para a carreira de procuradora da República e obtive aprovação. Eu não fazia idéia da beleza dessa carreira e o quanto eu me realizaria nela. Agradeço a Deus todos os dias por ter me levado por caminhos que me fizeram procuradora. É uma carreira que oferece, e como, os tão sonhados desafios...
AME - Quando escolheu ser procuradora, tinha em mente atuar na área da inclusão?
Dra. Eugênia - Inicialmente, não, pois só fui conhecer melhor a carreira após ter tomado posse. Mas, logo que isso aconteceu, a área que mais me conquistou, já em 1997, foi a relativa à cidadania, que trata, entre outros temas, de direitos das pessoas com deficiência. Só pude atuar efetivamente nessa área no ano 2000. Eu havia feito essa opção por escrito no início do ano de 1999, quando estava prestes a entrar em licença-maternidade, para ter o meu segundo filho, momento em que eu ainda não sabia que minha vida pessoal iria se cruzar com a referida escolha profissional.
AME - Como é a relação com seus filhos?
Dra. Eugênia - Acho que nossa relação é muito boa, apesar de eu me ausentar muito em razão de compromissos profissionais. Acredito que eles entendem essas ausências, pois também valorizam o que faço. Eu os deixo participar o tempo todo, redijo muita coisa em casa e, assim, creio que não sentem a falta de uma mãe presente fisicamente em tempo integral.
AME - Como define o momento em que soube que seu filho possuía deficiência? Como se sentiu a respeito daquele presente e do futuro à sua frente?
Dra. Eugênia - É muito difícil definir. Primeiro, foi como se a notícia não fosse comigo, ou que eles ainda iriam dizer que havia sido um engano e que aquele bebê lindo não tinha absolutamente nada. Aos poucos fui conseguindo entender o que estava acontecendo. Houve, sim, nas primeiras semanas, momentos em que chorei muito, mas tive a orientação de bons profissionais, muito apoio dos amigos e da família, o que me ajudou demais. Mas o fator fundamental foi ver que quanto mais eu conversava e interagia com o Vinícius, mais ele respondia positivamente, o que me enchia de confiança em relação ao futuro. Um momento crucial foi quando ele precisou ser operado às pressas, do coração, aos dois meses e meio. Quando foi levado pelos médicos e eu percebi que ele estava correndo sério risco de vida, lembro que tive um único pensamento: disse a Deus que o queria vivo e que todas as implicações da Síndrome de Down não importavam mais. A cirurgia foi muito bem sucedida e, quando saímos do hospital, eu senti que ele havia nascido outra vez e que eu estava saindo da maternidade, felicíssima, com meu bebê.
AME - Antes de seu filho, havia tido contato anterior com pessoas com deficiência?
Dra. Eugênia - Os principais contatos que tive foram na minha infância, com duas amigas com deficiência mental, com quem eu às vezes brincava. Uma delas porque éramos praticamente vizinhas na zona rural, e a outra porque nossos pais eram muito amigos e tínhamos a mesma idade. Esta última faleceu quando tinha em torno de 22 anos, o que eu senti muito. Tenho também uma prima com deficiência múltipla, mas leve. Nossos encontros ocorriam apenas em férias, por ocasião de visitas familiares. Assim, não posso dizer que não tive contato, mas hoje percebo que foram muito esporádicos. Não proporcionaram a mesma vivência que eu teria se tivessem ocorrido num ambiente escolar.
AME - A senhora é muito querida e admirada por sua defesa da inclusão escolar. Essa defesa tem gerado reações adversas ou a aceitação é geral?
Dra. Eugênia - Surpreendentemente essa defesa tem gerado reações adversas por parte de alguns órgãos e pessoas já ligados à causa da deficiência, mas são opiniões isoladas e, a maioria delas, baseadas em informações distorcidas. Quando temos a oportunidade de conversar e de explicar, percebemos que as resistências reais são bem localizadas e motivadas por fatores externos à questão da inclusão educacional.
AME - Por que o conceito de inclusão não é entendido de maneira uniforme por todos?
Dra. Eugênia - Eu penso que é porque se trata de algo muito novo e a resistência a novas idéias, novas concepções, principalmente no âmbito educacional, é muito comum.
AME - O que a senhora considera efetivamente como educação inclusiva?
Dra. Eugênia - Considero que esse termo é um pleonasmo, pois, com base na Constituição brasileira, é possível concluir que, se o ambiente escolar não for inclusivo, ou seja, se não atender a todos os alunos sem exclusões e restrições, não estamos falando de educação. Para tanto, basta o seguinte: que a escola comum esteja aberta a todas as matrículas, podendo dar preferência a pessoas residentes naquela região, ou outro critério objetivo; que não concentre as chamadas “necessidades especiais” em uma única sala de aula; que adote práticas de ensino democráticas e abertas à diversidade intelectual existente entre os alunos de uma mesma sala de aula; que o prédio esteja adaptado arquitetonicamente; que os responsáveis pela escola saibam onde dirigir-se caso necessitem de algum apoio especializado relacionado ou não à educação especial; que a educação especial tenha conteúdo realmente específico e seja ofertado de preferência na mesma escola, ou por uma escola especializada, de forma complementar, mas não impeditiva, do acesso à sala de aula comum.
AME - Como é hoje a educação e o desenvolvimento de seu filho?
Dra. Eugênia - Meu filho freqüenta escolas comuns desde os dois anos de idade, e faz as terapias e exercícios específicos desde que nasceu. Seu desenvolvimento motor e cognitivo está excelente. Para mim ele está “dez”, como ele mesmo diz, quando gosta de alguma coisa.
AME - Que tipo de educação a senhora espera que seu filho receba ao longo de sua formação e qual tipo de sociedade a senhora gostaria que o aguardasse na idade adulta?
Dra. Eugênia - Quero que o Vinícius e a Gabriela tenham uma formação, acima de tudo, humana e emancipadora. Uma sociedade onde ele encontre amigos, em que ele se sinta acolhido, feliz e que saiba lidar com as adversidades porque elas fazem parte da vida. Acho que esse é o desejo de todos os pais em relação a todos os filhos.
AME - O que a sociedade pode fazer para contribuir para a inclusão das pessoas com deficiência em geral?
Dra. Eugênia - Creio que é sendo mais sensível, em todos os campos: no trabalho, na escola, no lazer, etc. Porém, “sensível” não é no sentido de ser “bonzinho”, mas no sentido de reconhecer em todas as pessoas, mesmo que tenham limitações (quem não as tem?), a titularidade do direito de ser cidadão e de estar nos espaços em geral.
AME - Poderia deixar um recado especial aos nossos leitores?
Dra. Eugênia - Posso deixar o mesmo recado que fiz constar na introdução do meu livro, e é dirigido principalmente aos pais de pessoas com deficiência: “os filhos, não são os nossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E, embora vivam convosco, não vos pertencem” (Khalil Gibran). Neste mesmo poema, os filhos são comparados a flechas, os pais a arcos e o arqueiro é Deus. Nosso papel é sermos firmes, seguros e resistentes, como bons arcos devem ser, para que as flechas atinjam seus alvos, sejam eles quais forem, pois o Arqueiro sabe o que faz.
AME - Fale um pouco sobre sua formação acadêmica e por que optou por ser procuradora?
Dra. Eugênia Fávero - Sempre estudei em escolas públicas, no interior de Minas Gerais, até o 2º grau. Não pensava em fazer Direito e muito menos em ser procuradora. Na verdade, eu queria cursar análise de sistemas, de preferência numa faculdade também pública. Mas não passei no almejado vestibular e, aos 17 anos, acabei optando por uma faculdade mais próxima de minha cidade, Guaranésia (MG), ainda que particular, pois havia arrumado o meu primeiro emprego. Escolhi o curso de Direito, confesso que foi porque não vislumbrei, naquela ocasião, melhor opção. Nunca cursei grandes escolas, tudo o que obtive foi sempre com muito esforço, mas nada diferente do que qualquer pessoa pode alcançar. Cursei até o 3º ano, sem o menor entusiasmo, quando comecei a trabalhar no fórum daquela cidade, por ter sido aprovada em um concurso público para escrevente. Passei, então, a ter contato com os processos e, a partir daí, me apaixonei pelo Direito e fiquei decidida a atuar na área jurídica, mas como advogada, pois sempre gostei de desafios. Após um período como escrevente, advoguei nas cidades de Campinas e, depois que me casei, em São Paulo, sempre na área cível. Em 1996, prestei o meu primeiro concurso para a carreira de procuradora da República e obtive aprovação. Eu não fazia idéia da beleza dessa carreira e o quanto eu me realizaria nela. Agradeço a Deus todos os dias por ter me levado por caminhos que me fizeram procuradora. É uma carreira que oferece, e como, os tão sonhados desafios...
AME - Quando escolheu ser procuradora, tinha em mente atuar na área da inclusão?
Dra. Eugênia - Inicialmente, não, pois só fui conhecer melhor a carreira após ter tomado posse. Mas, logo que isso aconteceu, a área que mais me conquistou, já em 1997, foi a relativa à cidadania, que trata, entre outros temas, de direitos das pessoas com deficiência. Só pude atuar efetivamente nessa área no ano 2000. Eu havia feito essa opção por escrito no início do ano de 1999, quando estava prestes a entrar em licença-maternidade, para ter o meu segundo filho, momento em que eu ainda não sabia que minha vida pessoal iria se cruzar com a referida escolha profissional.
AME - Como é a relação com seus filhos?
Dra. Eugênia - Acho que nossa relação é muito boa, apesar de eu me ausentar muito em razão de compromissos profissionais. Acredito que eles entendem essas ausências, pois também valorizam o que faço. Eu os deixo participar o tempo todo, redijo muita coisa em casa e, assim, creio que não sentem a falta de uma mãe presente fisicamente em tempo integral.
AME - Como define o momento em que soube que seu filho possuía deficiência? Como se sentiu a respeito daquele presente e do futuro à sua frente?
Dra. Eugênia - É muito difícil definir. Primeiro, foi como se a notícia não fosse comigo, ou que eles ainda iriam dizer que havia sido um engano e que aquele bebê lindo não tinha absolutamente nada. Aos poucos fui conseguindo entender o que estava acontecendo. Houve, sim, nas primeiras semanas, momentos em que chorei muito, mas tive a orientação de bons profissionais, muito apoio dos amigos e da família, o que me ajudou demais. Mas o fator fundamental foi ver que quanto mais eu conversava e interagia com o Vinícius, mais ele respondia positivamente, o que me enchia de confiança em relação ao futuro. Um momento crucial foi quando ele precisou ser operado às pressas, do coração, aos dois meses e meio. Quando foi levado pelos médicos e eu percebi que ele estava correndo sério risco de vida, lembro que tive um único pensamento: disse a Deus que o queria vivo e que todas as implicações da Síndrome de Down não importavam mais. A cirurgia foi muito bem sucedida e, quando saímos do hospital, eu senti que ele havia nascido outra vez e que eu estava saindo da maternidade, felicíssima, com meu bebê.
AME - Antes de seu filho, havia tido contato anterior com pessoas com deficiência?
Dra. Eugênia - Os principais contatos que tive foram na minha infância, com duas amigas com deficiência mental, com quem eu às vezes brincava. Uma delas porque éramos praticamente vizinhas na zona rural, e a outra porque nossos pais eram muito amigos e tínhamos a mesma idade. Esta última faleceu quando tinha em torno de 22 anos, o que eu senti muito. Tenho também uma prima com deficiência múltipla, mas leve. Nossos encontros ocorriam apenas em férias, por ocasião de visitas familiares. Assim, não posso dizer que não tive contato, mas hoje percebo que foram muito esporádicos. Não proporcionaram a mesma vivência que eu teria se tivessem ocorrido num ambiente escolar.
AME - A senhora é muito querida e admirada por sua defesa da inclusão escolar. Essa defesa tem gerado reações adversas ou a aceitação é geral?
Dra. Eugênia - Surpreendentemente essa defesa tem gerado reações adversas por parte de alguns órgãos e pessoas já ligados à causa da deficiência, mas são opiniões isoladas e, a maioria delas, baseadas em informações distorcidas. Quando temos a oportunidade de conversar e de explicar, percebemos que as resistências reais são bem localizadas e motivadas por fatores externos à questão da inclusão educacional.
AME - Por que o conceito de inclusão não é entendido de maneira uniforme por todos?
Dra. Eugênia - Eu penso que é porque se trata de algo muito novo e a resistência a novas idéias, novas concepções, principalmente no âmbito educacional, é muito comum.
AME - O que a senhora considera efetivamente como educação inclusiva?
Dra. Eugênia - Considero que esse termo é um pleonasmo, pois, com base na Constituição brasileira, é possível concluir que, se o ambiente escolar não for inclusivo, ou seja, se não atender a todos os alunos sem exclusões e restrições, não estamos falando de educação. Para tanto, basta o seguinte: que a escola comum esteja aberta a todas as matrículas, podendo dar preferência a pessoas residentes naquela região, ou outro critério objetivo; que não concentre as chamadas “necessidades especiais” em uma única sala de aula; que adote práticas de ensino democráticas e abertas à diversidade intelectual existente entre os alunos de uma mesma sala de aula; que o prédio esteja adaptado arquitetonicamente; que os responsáveis pela escola saibam onde dirigir-se caso necessitem de algum apoio especializado relacionado ou não à educação especial; que a educação especial tenha conteúdo realmente específico e seja ofertado de preferência na mesma escola, ou por uma escola especializada, de forma complementar, mas não impeditiva, do acesso à sala de aula comum.
AME - Como é hoje a educação e o desenvolvimento de seu filho?
Dra. Eugênia - Meu filho freqüenta escolas comuns desde os dois anos de idade, e faz as terapias e exercícios específicos desde que nasceu. Seu desenvolvimento motor e cognitivo está excelente. Para mim ele está “dez”, como ele mesmo diz, quando gosta de alguma coisa.
AME - Que tipo de educação a senhora espera que seu filho receba ao longo de sua formação e qual tipo de sociedade a senhora gostaria que o aguardasse na idade adulta?
Dra. Eugênia - Quero que o Vinícius e a Gabriela tenham uma formação, acima de tudo, humana e emancipadora. Uma sociedade onde ele encontre amigos, em que ele se sinta acolhido, feliz e que saiba lidar com as adversidades porque elas fazem parte da vida. Acho que esse é o desejo de todos os pais em relação a todos os filhos.
AME - O que a sociedade pode fazer para contribuir para a inclusão das pessoas com deficiência em geral?
Dra. Eugênia - Creio que é sendo mais sensível, em todos os campos: no trabalho, na escola, no lazer, etc. Porém, “sensível” não é no sentido de ser “bonzinho”, mas no sentido de reconhecer em todas as pessoas, mesmo que tenham limitações (quem não as tem?), a titularidade do direito de ser cidadão e de estar nos espaços em geral.
AME - Poderia deixar um recado especial aos nossos leitores?
Dra. Eugênia - Posso deixar o mesmo recado que fiz constar na introdução do meu livro, e é dirigido principalmente aos pais de pessoas com deficiência: “os filhos, não são os nossos filhos, são os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. E, embora vivam convosco, não vos pertencem” (Khalil Gibran). Neste mesmo poema, os filhos são comparados a flechas, os pais a arcos e o arqueiro é Deus. Nosso papel é sermos firmes, seguros e resistentes, como bons arcos devem ser, para que as flechas atinjam seus alvos, sejam eles quais forem, pois o Arqueiro sabe o que faz.
5 de dez. de 2009
Inclusão social
Depoimento escrito por Antonia Yamashita, mãe do Lucas, que nos leva a refletir sobre a tão sonhada “inclusão social.”
Terça-feira, 27 de outubro de 2009
Olá a todos!!! Já faz dias que resolvi parar com o blog, e por falta de tempo nem vim aqui para comunicar, mas decidi mantê-lo, mesmo que eu venha aqui esporadicamente, preciso de um lugar onde não me calem...
Ontem o Lucas teve avaliação global lá na AACD. Todos os profissionais nos atenderam bem, até nos elogiando por ele não ter cáries e nem luxação mesmo já tendo quase 9 anos.
Eu fui atrás deles há uns dois ou três meses atrás, pois preciso de orientação tanto da pedagogia como psicologia pra que o Lucas volte para a escola. Já que está em casa sem fazer nada.
Eu não sei o que estava escrito no prontuário, se a pedagoga que nos atendeu sabia ou não que eu estava ali em busca de ajuda pra colocar o Lu na escola, mas o fato é que chegou a nós fazendo pressão por ele não estar matriculado, dizendo que deveríamos nos preocupar com o conselho tutelar, pois eles estão em cima... Enfim, se eu não soubesse que as coisas não funcionam da forma que ela falou estava me descabelando, com medo de ter problemas...
No entanto, apesar de saber que não é assim que as coisas funcionam foi inevitável não me sentir uma ameba.
Além de ter que ouvir dela a confirmação do que eu já sabia, de que o meu filho é muito imaturo pra sua idade, ver seu sorriso sarcástico quando lhe falei sobre como eu o estimulava, ouvi que os pais “ajudam”, mas que precisam ser pais...
Se ela sabia ou não que eu estava ali em busca de ajuda pra questão escolar, não sei, mas não custava perguntar?!! Se eu estou ali exatamente pra fazer uma coisa que já deveria estar sendo feita, o mínimo era dizer: mãe é bom mesmo que vocês queiram colocá-lo de volta na escola, pois o conselho tutelar está em cima dos pais que deixam os filhos em casa... Mas fazer aquela pressão, nos olhando como se fossemos um casal de irresponsáveis...
Conforme fui falando que eu o estimulava, mesmo reconhecendo que não sabia se era certo ou não e que buscava orientações, ela continuou firme com seu olhar geladeira. Aquele que te deixa paralisado e sem ação...
Parece que a única coisa que se mexia em mim era as lágrimas querendo emergir...
Não dá pra descrever o riso de desdém e a forma como nos olhava...
Eu devo precisar urgente de uma ajuda, pois naquela hora me senti o mosquito do cocô do cavalo...
Será que é tão difícil falar pros pais::
Legal você tentar ajudar seu filho, mas olha você fizer dessa forma ele vai entender melhor.... Isso soa como estímulo.
Se uma mãe que não sabe a importância que ela tem no tratamento e desenvolvimento do seu filho ouvisse aquilo, ela jamais iria fazer algo que pudesse estimular seu filho... Porque foi assim que saí de lá ontem, sem pique pra continuar... Pois se já é tão difícil ficar dizendo pro filho, fazer de tal forma... Assim... E fazendo, repetindo a mesma coisa dia após dia pra poder ver um resultado, pra depois ouvir de alguém que respeitamos por ser um profissional que não é desse jeito e que temos que ser pais, como se todo aquilo fosse em vão???...
Faltou ela dizer: deixe os tratamentos com a gente, sejam pais, como se ser pais e mãe, é apenas ver o filho crescer sem ter participação em seu desenvolvimento...
Então a mãe ou o pai que ajuda seu filho, não importa se com ou sem deficiência, a fazer sua lição de casa, não é um colaborador do seu professor?? Ela não está tendo participação direta na educação do seu filho???
E nós temos que colocar as goteiras e todas as outras órteses que nossos filhos precisarem, que temos que junto com os médicos decidir qual o melhor procedimento pra ele, se isso não interferir em risco de morte, não somos também auxiliares da equipe médica?? Pode então o médico, o professor, o fisioterapeuta, fazer todo o trabalho sem o auxilio dos pais????
Auxiliar é prestar auxílio a. = AJUDAR, SOCORRER. Servir de meio para. Que ou o que presta assistência a outrem na realização de alguma atividade. Que ou quem tem uma função secundária em alguma atividade.
Parece ser simples, meu filho teve paralisia cerebral, não vai andar, não vai sentar, tem déficit cognitivo, temos que enfrentar uma vida de médicos, exames e cirurgias, tudo indica que pelo resto da vida, mas está tudo bem... Fácil né, se fosse assim???
Mas não é não.... Existe uma criança que sofre uma mãe impotente, que às vezes é apenas um apoio pro filho (mas esse apoio também pode ser tudo). Existe muita dor por trás disso tudo. Não é apenas uma cirurgia, é mais uma entre tantas... Confirmar o que eu de certa forma já sabia (sobre o déficit de cognitivo) não é só uma perda, é mais uma perda, entre tantas...
A feridinha no coração da mãe, também não é só uma, é mais uma....
O não, é mais um dentre tantos em quase 9 anos...
Estou me sentindo péssima, nem preciso dizer que tive que me conter pra não chorar lá. Não por vergonha, mas porque ela não merecia sequer presenciar as minhas lágrimas.
E agora eu me pergunto, que raio de liberdade é essa que não nos dá opções decentes de escolha... Se a escola especial não pode aceitar (seja por qual motivo for...) e eu não encontrar no meu bairro uma decente, ou eu vou pra longe atrás de outra ou eu fico naquela mesma, senão o conselho tutelar vem atrás de mim... Ah e ainda fiquei sabendo que o auxiliar que tem nas salas de aula é só para o primeiro ano e que ele entrando na escola vai ser respeitada a idade dele, então se a idade dele é estar na 2ª série é pra lá que ele vai, com o mesmo currículo que os outros, adaptado pela professora (se isso acontecer na prática tudo bem, mas infelizmente não é o que vemos...)
Se ele vai se sentir bem lá na escola, nessa sala, com coleguinhas da sua idade cronológica, mas cognitivamente lá na frente, parece que só importa a mim, a mãe... somente a mim... A minoria na história...
O fato de eu já ter me sentido um lixo quando ele estava na escola, no dia das mães quando todos cantaram e ele ficou lá no meio que nem estátua sem ter noção do que tava acontecendo, e de outras crianças cuja professora auxiliar chegou na sala e viu os dois alunos com síndrome de Down no canto enquanto os outros ensaiavam para a apresentação, isso não conta, é apenas um mero detalhe... O importante é que estão na escola.
Mais uma vez parece que o a única coisa que conta é os números: não importa a qualidade de vida das crianças e sim quantos prematuros se salvam, não importa se os alunos estão realmente incluídos, o importante é que o número de alunos com deficiências nas escolas está aumentando cada vez mais...
Será que nós pais temos outra opção?? Já sei, vou morar nas montanhas!!!
Blog da Antonia: http://umamaeespecial.blogspot.com/2009/10/de-volta.html#links
http://www.umamaeespecial.com/
Terça-feira, 27 de outubro de 2009
Olá a todos!!! Já faz dias que resolvi parar com o blog, e por falta de tempo nem vim aqui para comunicar, mas decidi mantê-lo, mesmo que eu venha aqui esporadicamente, preciso de um lugar onde não me calem...
Ontem o Lucas teve avaliação global lá na AACD. Todos os profissionais nos atenderam bem, até nos elogiando por ele não ter cáries e nem luxação mesmo já tendo quase 9 anos.
Eu fui atrás deles há uns dois ou três meses atrás, pois preciso de orientação tanto da pedagogia como psicologia pra que o Lucas volte para a escola. Já que está em casa sem fazer nada.
Eu não sei o que estava escrito no prontuário, se a pedagoga que nos atendeu sabia ou não que eu estava ali em busca de ajuda pra colocar o Lu na escola, mas o fato é que chegou a nós fazendo pressão por ele não estar matriculado, dizendo que deveríamos nos preocupar com o conselho tutelar, pois eles estão em cima... Enfim, se eu não soubesse que as coisas não funcionam da forma que ela falou estava me descabelando, com medo de ter problemas...
No entanto, apesar de saber que não é assim que as coisas funcionam foi inevitável não me sentir uma ameba.
Além de ter que ouvir dela a confirmação do que eu já sabia, de que o meu filho é muito imaturo pra sua idade, ver seu sorriso sarcástico quando lhe falei sobre como eu o estimulava, ouvi que os pais “ajudam”, mas que precisam ser pais...
Se ela sabia ou não que eu estava ali em busca de ajuda pra questão escolar, não sei, mas não custava perguntar?!! Se eu estou ali exatamente pra fazer uma coisa que já deveria estar sendo feita, o mínimo era dizer: mãe é bom mesmo que vocês queiram colocá-lo de volta na escola, pois o conselho tutelar está em cima dos pais que deixam os filhos em casa... Mas fazer aquela pressão, nos olhando como se fossemos um casal de irresponsáveis...
Conforme fui falando que eu o estimulava, mesmo reconhecendo que não sabia se era certo ou não e que buscava orientações, ela continuou firme com seu olhar geladeira. Aquele que te deixa paralisado e sem ação...
Parece que a única coisa que se mexia em mim era as lágrimas querendo emergir...
Não dá pra descrever o riso de desdém e a forma como nos olhava...
Eu devo precisar urgente de uma ajuda, pois naquela hora me senti o mosquito do cocô do cavalo...
Será que é tão difícil falar pros pais::
Legal você tentar ajudar seu filho, mas olha você fizer dessa forma ele vai entender melhor.... Isso soa como estímulo.
Se uma mãe que não sabe a importância que ela tem no tratamento e desenvolvimento do seu filho ouvisse aquilo, ela jamais iria fazer algo que pudesse estimular seu filho... Porque foi assim que saí de lá ontem, sem pique pra continuar... Pois se já é tão difícil ficar dizendo pro filho, fazer de tal forma... Assim... E fazendo, repetindo a mesma coisa dia após dia pra poder ver um resultado, pra depois ouvir de alguém que respeitamos por ser um profissional que não é desse jeito e que temos que ser pais, como se todo aquilo fosse em vão???...
Faltou ela dizer: deixe os tratamentos com a gente, sejam pais, como se ser pais e mãe, é apenas ver o filho crescer sem ter participação em seu desenvolvimento...
Então a mãe ou o pai que ajuda seu filho, não importa se com ou sem deficiência, a fazer sua lição de casa, não é um colaborador do seu professor?? Ela não está tendo participação direta na educação do seu filho???
E nós temos que colocar as goteiras e todas as outras órteses que nossos filhos precisarem, que temos que junto com os médicos decidir qual o melhor procedimento pra ele, se isso não interferir em risco de morte, não somos também auxiliares da equipe médica?? Pode então o médico, o professor, o fisioterapeuta, fazer todo o trabalho sem o auxilio dos pais????
Auxiliar é prestar auxílio a. = AJUDAR, SOCORRER. Servir de meio para. Que ou o que presta assistência a outrem na realização de alguma atividade. Que ou quem tem uma função secundária em alguma atividade.
Parece ser simples, meu filho teve paralisia cerebral, não vai andar, não vai sentar, tem déficit cognitivo, temos que enfrentar uma vida de médicos, exames e cirurgias, tudo indica que pelo resto da vida, mas está tudo bem... Fácil né, se fosse assim???
Mas não é não.... Existe uma criança que sofre uma mãe impotente, que às vezes é apenas um apoio pro filho (mas esse apoio também pode ser tudo). Existe muita dor por trás disso tudo. Não é apenas uma cirurgia, é mais uma entre tantas... Confirmar o que eu de certa forma já sabia (sobre o déficit de cognitivo) não é só uma perda, é mais uma perda, entre tantas...
A feridinha no coração da mãe, também não é só uma, é mais uma....
O não, é mais um dentre tantos em quase 9 anos...
Estou me sentindo péssima, nem preciso dizer que tive que me conter pra não chorar lá. Não por vergonha, mas porque ela não merecia sequer presenciar as minhas lágrimas.
E agora eu me pergunto, que raio de liberdade é essa que não nos dá opções decentes de escolha... Se a escola especial não pode aceitar (seja por qual motivo for...) e eu não encontrar no meu bairro uma decente, ou eu vou pra longe atrás de outra ou eu fico naquela mesma, senão o conselho tutelar vem atrás de mim... Ah e ainda fiquei sabendo que o auxiliar que tem nas salas de aula é só para o primeiro ano e que ele entrando na escola vai ser respeitada a idade dele, então se a idade dele é estar na 2ª série é pra lá que ele vai, com o mesmo currículo que os outros, adaptado pela professora (se isso acontecer na prática tudo bem, mas infelizmente não é o que vemos...)
Se ele vai se sentir bem lá na escola, nessa sala, com coleguinhas da sua idade cronológica, mas cognitivamente lá na frente, parece que só importa a mim, a mãe... somente a mim... A minoria na história...
O fato de eu já ter me sentido um lixo quando ele estava na escola, no dia das mães quando todos cantaram e ele ficou lá no meio que nem estátua sem ter noção do que tava acontecendo, e de outras crianças cuja professora auxiliar chegou na sala e viu os dois alunos com síndrome de Down no canto enquanto os outros ensaiavam para a apresentação, isso não conta, é apenas um mero detalhe... O importante é que estão na escola.
Mais uma vez parece que o a única coisa que conta é os números: não importa a qualidade de vida das crianças e sim quantos prematuros se salvam, não importa se os alunos estão realmente incluídos, o importante é que o número de alunos com deficiências nas escolas está aumentando cada vez mais...
Será que nós pais temos outra opção?? Já sei, vou morar nas montanhas!!!
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Avaliação
Vídeo sobre avaliação criado para a disciplina Avaliação em EaD, ministrada pelo Prof. Gilberto Lacerda, para o Mestrado de TIC's na formação em EaD. Produzido por: Simone Teodoro Moreira
4 de dez. de 2009
A beleza de ser
A Beleza de ser...
Clip promocional do Calendário 2010 da ReviverDown, realizado em parceria com a SpecialKidsPhotography do Brasil
www.specialkidsphotography.com.br
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