15 de mar. de 2010

Diferenças

Falar de diferenças, quando muitos discursos abordam a igualdade, parece ser uma contradição. A igualdade tão falada nos discursos diz respeito à igualdade legal, relacionada à lei, aos direitos e deveres de cada um. Por exemplo: todas as crianças têm direito à educação, a frequentar a escola. Neste momento, o que prevalece é a igualdade. Quanto à diferença mencionada, esta diz respeito ao multiculturalismo, que está relacionado à diferença de valores, de costumes. Por exemplo: em uma sala de aula, todos têm o direito de estar, no entanto, cada aluno é único, é singular e espera-se que, neste contexto, estas singularidades sejam respeitadas, ao abordar assuntos como: religião, costumes, classe social, gostos musicais, orientação sexual, dentre outros. O professor deve ser cuidadoso, imparcial e aberto a determinados assuntos e situações. De acordo com CANEN (2002), o multiculturalismo,

[...] busca respostas plurais para incorporar a diversidade cultural e o desafio a preconceitos, nos diversos campos da vida social, incluindo a educação. Procura pensar caminhos que possam construir uma ciência mais aberta a vozes de grupos culturais e étnicos plurais (Canen: 2002 178).

13 de mar. de 2010

Não existe educação inclusiva

Questionado sobre a existência de algum bom curso de especialização em educação inclusiva fui obrigado a responder ao meu interlocutor que não conhecia nenhum, mesmo porque eu não acreditava na existência de nenhum curso sobre esse assunto.
Diante da surpresa da pessoa a essa minha afirmação expliquei que o mercado está cheio de cursos que se batizaram com esse título, mas nenhum deles é um curso de educação inclusiva, são cursos para a integração de pessoas com deficiência na escola regular. Não estão preocupados em como tornar a escola um local de qualidade para todos, mas, apenas e tão somente, querendo preparar pessoas para receber alunos com deficiência.
E se estamos falando de inserção de um grupo específico de pessoas isso não é inclusão.
Também não se trata de inclusão quando esses cursos focam parte do seu currículo nas características fisiológicas das deficiências. Como se para um professor fizesse alguma diferença saber se a cegueira do seu aluno foi provocada por glaucoma, diabetes ou por algum acidente.
E, mesmo se fizesse, nem por isso duas pessoas cegas pelas mesmas causas poderiam ser educadas da mesma forma. As pessoas com deficiência não são pacotes homogêneos de acordo a deficiência que possuem.
O modelo deficitário ressaltado nesses cursos leva as pessoas que o fazem a acreditar que especialistas médicos vão resolver o problema da educação. Isso apenas reforça a idéia de que é o aluno com deficiência é que precisa se preparar para ser aceito na escola. Se fosse inclusão estariam discutindo o que a escola precisa fazer para atender todos os alunos.
Nenhum desses cursos deixa de falar em legislação, pena que sejam apenas os artigos das leis que garantem a educação para as pessoas com deficiência, deveriam estar lendo a LDB inteira e não só um pedaço. Aí sim descobririam que avaliação é algo decidido pela escola e que ninguém é obrigado a dar prova em 50 minutos e notas de 0 a 10.
Um curso que ensine seus alunos a respeito de como educar todas as crianças. Um curso que ensine a explorar o potencial de cada uma. Um curso que fale de escolas que atendam com qualidade todo mundo. Um curso que ensine as leis e diretrizes da educação do país. Isso sim seria um curso inclusivo.
Para não deixar a pessoa que me questionava na mão, fui ver se descobria algum curso com esse perfil. E descobri. Atende pelo nome de pedagogia.
Educação inclusiva não é uma modalidade de ensino é a própria educação. Não é uma especialidade, se for, deixa de ser inclusiva.
Precisamos de escolas que preparem os professores a serem educadores de todos? Claro que sim. As nossas faculdades de pedagogia hoje preparam seus alunos para serem educadores dos alunos “médios”, uma aberração estatística inexistente na vida real.
Precisamos de pedagogos que estejam preparados para educar pessoas. Todas as pessoas.
Quando a formação dos professores for inclusiva ninguém vai precisar correr atrás de pseudo-especializações.
O que todos nós precisamos mesmo é de boa educação.

Postado por Fábio Adiron no Inclusão: ampla, geral e irrestrita

3 de mar. de 2010

Criança

Mais respeito, eu sou criança!

(Pedro Bandeira)

Prestem atenção no que eu digo,
Pois eu não falo por mal;
os muitos adultos que me perdoem,
mas infância é sensacional!
Vocês já esqueceram, eu sei.
Por isso eu vou lhes lembrar:
pra que ver por cima do muro,
se é mais gostoso escalar?
Pra que perder tempo engordando,
se é mais gostoso brincar?
Pra que fazer cara tão séria,
Se é mais gostoso sonhar?
Se vocês olham pra gente,
é terra o que vêem por trás.
Pra nós, atrás de vocês,
há o céu, há muito mais!
Quando julgarem o que eu faço,
Olhem seus próprios narizes:
lá no seu tempo de infância,
será que não foram felizes?
Mas se tudo o que fizeram
já fugiu de sua lembrança,
fiquem sabendo o que eu quero:
mais respeito, eu sou criança!